sábado, 11 de fevereiro de 2012

Pinheirinho



Dormia um sono grave profundo...
Chamá-la não convinha.
Nem efeito sortiria.
Sob a amoreira, deixava-se a dormir...
Quem passava, não entendia...
Um sono profundo e denso...
De cansaço dormia nossa amiga...
Distante de tudo de todos...
Como morta jazia...
Se havia príncipe, quem trazê-lo-ia?
Num chão de terra abatida
Dormia a menina.
Por todos era querida
Mas... distante
De tudo de todos, no chão jazia 
A nossa amiga: alegria.

sábado, 24 de dezembro de 2011

A Última Convenção

De volta à vida, normal e cotidiana, o homem respirava aliviado ao entrar no escritório.


O Sr. Malachias não tardava como sempre, pouco importava que fosse um ponto facultativo em pleno verão.

_Sr. Idalgo nós estamos em pleno mês de janeiro, recém chegados das festas das férias coletivas e o Sr. me aparece no escritório sem fazer a barba! Ora, Ora Sr. Idalgo tantos anos de trabalho e o Sr. Agora resolveu ficar relapso.

_Mas ontem eu fiz a barba depois do jantar, será que cresceu tanto?

__Quem morreu ontem hoje está frio, chapa.

Disse isto já abrindo a porta de seu gabinete sem deter-se, deixando Idalgo mais frio que o morto da véspera.

No fundo, nosso Assistente Administrativo ficara satisfeito, lisonjeado mesmo, ao ser admoestado assim, diante de todos.

Afinal ele vinha de um mundo onde não havia reprimendas nem caras feias, onde abundavam sorrisos e abraços sinceros _ feliz natal.

Era preciso criar coragem e responder 9601 vezes “feliz natal” completar “pra você e pra família”. Era preciso falar com pessoas cuja existência nunca havia notado e ainda sorrir, atravessar o natal e comer a última convenção em forma de peru, por que assim ficara decidido. Assim seria, quisesse ou não.

Agora o som agradável da voz do chefe que lhe surripiava horas extras, que inventava serões para dizer ao patrão que seus subordinados eram dóceis e que ele economizava o dinheiro da empresa, parecia-lhe bálsamo, perfume silvestre.

Uma vez mais a dona Flora entrou no gabinete do Sr. Malachias e atribuiu o atraso do relatório anual de vendas a uma suposta inoperância de Idalgo. Mas desta vez, nosso homem ouvira com prazer indizível aquela acusação de Dona Flora.

Antes isto que os presentes de “inimigo” secreto, as visitas familiares de fim de ano que têm como objetivo averiguar a vida do visitado para produzir o álibi necessário aos comentários desairosos que ocorreriam durante o ano novo, que todos desejaram que fosse ótimo, próspero e o mais.

Agora era hora de matar saudade do cafezinho frio do escritório que dormia na recepção e que ia matando Idalgo aos poucos para que ele somente percebesse no derradeiro leito.

_Quer saber, não tenho saudade de casa agora, nem da mulher, nem das fofocas dela, nem... Não das crianças eu tenho sim - disse de si para si. Sorriu admirando a própria coragem e descansou por quase dois segundos a mão direita nas ancas generosas de Andréia, que estava de costas e pulou surpresa, admirada, tentando um violento tapa que não acertou. Mas sorriu marotamente nas costas de Idalgo.

Ao voltar para sua sala o Sr. Malachias o aguardava de pé atrás da cadeira.

__Idalgo, 10 minutos para o Sr. me entregar as informações que faltam ao relatório da secretária mais eficiente que eu já tive em 45 anos de carreira, ou você vai comer dez quilos de poeira de jornal até arrumar outro trabalho, melhor, outra moleza como esta aqui.

Idalgo deixou-se amolecer na cadeira sem responder, uma gota caiu-lhe do canto da boca manchando levemente a camisa creme, meneou a cabeça, suspirou.

Quantos prazeres na primeira manhã de trabalho daquele novíssimo ano!

Não acreditava que passara longe tantos dias, entregue ao peru, ao panetone, ao champanhe barato, ao “inimigo” secreto, da escola da filha, de casa, da casa do vizinho, da sogra.

Bem, cumprira todo o caminho do tormentoso “feliz ano novo”, do pernil, do lombo, do almoço oficial, do cunhado bêbedo, do bêbedo do bar que achava-se amigo intimo. Não cedera a tentação de brincar de roleta russa com o revolver calibre 38 do irmão caçula enquanto aguardava a meia noite do 31 de dezembro.

Agora merecia os prazeres do trabalho duro. Importava pouco a proximidade da festa do barulho, quando ele teria de enlouquecer pra ser normal. Agora colhia os frutos da última convenção sorvida gota a gota, grão a grão. Fora convencionalmente feliz durante todo o período das festas.

Agora ninguém roubaria dele a verdadeira felicidade, a de ser funcionário, a do gosto do sapato do chefe na ponta da língua, a de gostar do cheiro do papel mofado, do ar condicionado.

Dona Flora passou e o viu assim: feliz, alegre...quase nas nuvens, fez um ar de irritação.

_ Esse não tem jeito não, é desligado mesmo.

Idalgo fez um sinal obsceno que a fez tremer.

A vida estava restabelecida para Idalgo,

Era a sobremesa da ultima convenção, enquanto não viesse a festa da carne e do barulho.

A vida era boa, inequivocamente boa, enquanto não batesse novamente o cartão.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

À Beira do Abismo





Amo-te

Amo-te toda inteira

Como quem quer uma pêra

Como quem está, se não no abismo,

Pelo menos à beira

Amo-te

Amo-te assim, sem cerimônia

Como quem vai num avião de carona

Como quem está sem prancha

Na crista da onda

Amo-te

Amo-te todo o dia

À noite, pela manhã...

Como quem devora uma maçã

Amo-te

Amo-te desesperadamente

Como quem, já quase condenado,

Para não morrer, mente

Amo-te

Amo-te menina

Bichinho de pelúcia na vitrina

Cristal raro, coisa fina

Amo-te

Amo-te doida, nobre causa

Bela coisa

Como quem morre e sonha

Amo-te

Amo-te menina, mulher, senhora

Amo-te motivo do agora

Ah, mulher, minha

Minha como a morte

Alucinação...

Amo-te

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Brincando com Maria

Maria Luzia da Graça


Maria luz do dia

Maria luz Maria

Maria luz da noite estrelada

Maria luz da graça emanada

Da beleza do dia

És mais linda Maria Luzia

Porque tens a graça

Graça de te ver

Graça de existir você

Graça é o que teu nome diz

Diz que o mar ria

Mar ria da luz do dia

Que simplesmente Luzia

Aonde a luz ia

Dizer que és graça Luzia



Hilário Bispo

14/10/1988



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Silêncio



O silêncio é um pássaro invisível a voar
entre duas cabeças
entre dois corações
a sobrevoar anseios e desejos
multidões
verdades versejadas em palavras
verdades bem guardadas
o Silêncio
prehe de vida
asas da memória ida
olhos do incerto
voa invisivel
abalando o ar
nos fazendo suspirar
silêncio...
irmão do meio do desejo
prenúncio do beijo
do beijo ou do adeus
as pessoas têm mistérios
as palvars tem misterios
o silêncio també tem os seus...

domingo, 20 de novembro de 2011

Começo de Uma História



Quem passa pala Via Anchieta 308, não vê mais do que uma praça, como tem sido as praças de São Paulo, talvez não desprovidas de beleza, mas carentes de cuidado. Impossível suspeitar que 41 anos antes, exatamente onde seria o número 308, no dia 28 se julho de 1970, Francisco Rivas Neto, Pai Rivas, abria ali o terreiro do Caboclo Urubatão da Guia.
Entre 1968 e 1970 o terreiro já funcionava na residência de Pai Riavs, então na Rua Lord Cockrane, 170.
Passaram-se as décadas, mas as histórias e as imagens ficaram gravadas da alma de cada personagem desta trajetória, ficaram gravadas no imaginário da coletividade. Impossível deixar de invocar figuras singulares como o Sr. Isaias, que ficava sempre na casa de umbanda que funcionava na Rua silva Bueno, onde hoje fica o terminal de ônibus; ou do Sr. Osvaldo, dono de uma pequena indústria de plásticos injetáveis na Rua Labatut, em cuja sobreloja funcionava o terreiro do Caboclo Vira Mata. O próprio Sr. Osvaldo, médium do Caboclo Vira Mata tocava o terreiro.
Assim como os Srs. Osvaldo e Isaias, que eram amigos do terreiro do Caboclo Urubatão da Guia, havia centenas de pessoas que amiúde visitavam a casa Espiritual de Pai Rivas, cuja corrente contava com mais de 300 médiuns.
A vida comunitária, candente, no Ipiranga de 1970, encontrava brilho especial no terreiro do Caboclo Urubatão, que começara na casa de Rivas Neto, Mestre Arhapiagha e de seu pai Domingo Rivas.
Em torno do Sagrado e de amizades duradouras entres as Ruas Labatut, Silva Bueno, Lino Coutinho, Via Anchieta e outras, as pessoas celebravam a coletividade, a amizade e o apreço.
Nos próximos dias postaremos pequenos textos e imagens que tratam de nossa revisita ao Ipiranga e a um relicário das memórias do mundo e do Homem.

DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA



O Dia Nacional da Consciência Negra representa um marco na luta contra o racismo, a intolerância e a discriminação.
Mais do que lembrar a figura de Zumbi ou de Palmares o dia 20 de novembro é marco de uma construção coletiva, porque os movimentos sociais, sobretudo o Movimento Negro, lutaram anos apelo reconhecimento desta da data não só como comemorativa, mas como mais um oportunidade para que a sociedade possa vencer o racismo e a intolerância.

Mas porque 20 de novembro?

20 de novembro foi o dia em que Zumbi dos palmares foi morto marcando assim o fim do maior quilombo do Brasil e uma das mais importantes experiências libertárias do continente americano.
O quilombo durou cerca de 100 anos e chegou a abrigar em torno de 30 mil pessoas sendo negra a maioria esmagadora, mas tendo também entre seus habitantes índios e brancos pobres que se organizavam em cerca de 10 mocambos ou cidades sendo a principal delas, uma espécie de capital, Macacos. A manutenção da população palmarina era feita por meio da agricultura, da caça e do comércio entre o quilombo e fazendas vizinhas, que assim evitavam violentos conflitos com os negros quilombolas.
Diferente do que muitos pensam não havia escravidão em no quilombo dos Palmares, mas um sistema de gradual inserção de novos habitantes à sociedade palmarina. O bandeirante Domingos Jorge Velho, que derrotaria o quilombo infiltrou um negro de suas tropas no quilombo para conhecer os hábitos dos homes a serem batidos, o mesmo relatou a seu comandante esta forma de organização, o eu facilitou o trabalho do bandeirante que incursionou a serra da barriga, onde se localizava o quilombo com tropas formadas por índios desgarrados, negros, e brancos pobres que o acompanhava em suas lutas contra negros e índios.
Domingos Jorge Velho marchou de São Paulo a Pernambuco com suas tropas para enfrentar Palmares, perdeu na primeira tentativa voltou reuniu mais homens, estudou o inimigo e em 20 de novembro de 1695 derrotou finalmente o monumental Quilombo dos Palmares.
Pala pujança de palmares e de Zumbi o dia 20 de novembro foi escolhido pelo movimento negro (um caso raro de unanimidade entre todas as entidades que compõe o movimento negro) como dia nacional da consciência negra, que deve ser encarado como um dia de homenagem a Zumbi, a Palmares, mas sobre tudo como uma data para reforçara luta contra o racismo e á intolerância.
A oficialização desta data é uma conquista a sociedade e principalmente do movimento negro. 20 de novembro é também um tributo à liberdade.



Bibliografia: Palmares, a Guerra dos Escravos – Décio Freitas e Zumbi – Joel Rufino dos Santos